Uma ação de investigação judicial eleitoral por fraude nas cotas femininas e de pessoas negras, apresentada pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) contra o Partido Liberal (PL), revelou divergências internas no partido. Essas divergências resultaram na manifestação pública do vereador Marcelo Chitão contra o presidente do PL municipal, o vereador reeleito Octávio Sampaio. A ação do MPE teve início após uma denúncia do ex-vereador e candidato pelo PL, Márcio Arruda, à Ouvidoria do MP, alegando que o partido violou as regras de financiamento de campanha.
Nas últimas duas semanas, os vereadores não reeleitos pelo PL, Marcelo Lessa e Marcelo Chitão, acusaram o presidente da sigla na cidade de falta de transparência na condução do partido. Chitão afirmou que a condução do partido favoreceu exclusivamente a reeleição de Sampaio, prejudicando os demais candidatos.
Apesar de manter um tom respeitoso, Marcelo Chitão declarou que não apoiará uma eventual candidatura de Sampaio a deputado estadual ou federal: “Não posso pedir votos para quem não acredito”.
Em relação à distribuição dos recursos eleitorais, provenientes do Fundo Partidário (FP) e do Fundo Especial de Financiamento de Campanhas (FEFC), o PL municipal, por meio de seu advogado Jordani Fernandes, afirmou que não há irregularidades. “A competência para distribuição dos recursos é dos partidos políticos na esfera federal. Somente a Nacional tem autonomia e controle sobre a distribuição dos fundos”, explicou Fernandes.
O advogado e o presidente do PL municipal, Octávio Sampaio, afirmaram que não houve envio de verbas para o diretório municipal. “Os fundos foram transferidos diretamente da Nacional para os candidatos, com critérios estabelecidos, sem qualquer ingerência do diretório municipal. O Ministério Público reconheceu isso, e estamos confiantes de que a justiça validará a legitimidade e legalidade do pleito”, esclareceu o advogado.
Apesar das críticas à postura do presidente do PL na cidade, Marcelo Chitão confirmou que os recursos obtidos por ele e por Marcelo Lessa vieram diretamente da direção nacional, sem vínculo com a direção municipal. Na sessão de 17 de dezembro, Octávio Sampaio reconheceu o mérito dos dois vereadores por terem conseguido os recursos e afirmou que, independentemente do processo iniciado pelo Ministério Público, todos os candidatos do PL estão amparados pela defesa apresentada pelo advogado contratado por ele.
Vereador Marcelo Chitão expressa decepção com rumos do PL na cidade
Em pronunciamento na Câmara Municipal, na sessão de 17 de dezembro, o vereador Márcio Alessa (PL), que se definiu como conservador, manifestou seu descontentamento com a direção municipal do partido em Petrópolis. Ele chegou a afirmar que não apoiaria uma possível candidatura do presidente da sigla, vereador reeleito, Octávio Sampaio a deputado estadual ou federal, por não acreditar nele.
Em tom respeitoso, porém contundente, o parlamentar cobrou maior articulação das lideranças do partido na cidade, e criticando a forma como o partido foi conduzido durante o processo eleitor, que resultou apenas na reeleição do presidente da sigla. O vereador Octávio Sampaio se defendeu, afirmando que faltou muito pouco para eleger o segundo vereador e não pode ser culpado pelo desempenho do partido, pois fez tudo que estava ao seu alcance para o sucesso do partido.
Com a manifestação direcionada aos líderes nacionais e estaduais do PL — o presidente nacional Valdemar Costa Neto, o presidente estadual Altineu Cortes e o senador Flávio Bolsonaro —, o vereador Marcelo Chitão afirmou estar decepcionado com o desempenho do partido na última eleição municipal. Ele lamentou que o PL, considerado um dos maiores partidos do Brasil, tenha elegido apenas um vereador na cidade, quando, segundo ele, havia potencial para conquistar mais cadeiras.
“Acredito que, com mais trabalho e união, poderíamos ter alcançado resultados muito melhores. Ao invés de fortalecer apenas um nome, era necessário buscar uma estratégia de crescimento coletivo, consolidando as bases do nosso partido em toda a cidade”, afirmou Chitão.
Embora tenha reafirmado seu respeito ao presidente do PL no município, vereador Otávio Sampaio, Marcelo Chitão deixou claro que sua decepção vai além de questões pessoais. “Jamais desrespeitaria Vossa Excelência ou o cidadão Otávio Sampaio, mas não posso fingir que não estou profundamente insatisfeito com a condução do partido”, destacou.
O vereador Chitão também aproveitou a oportunidade para questionar se as lideranças do PL no âmbito estadual e nacional têm ciência da situação do partido na cidade. Segundo ele, a falta de união e a concentração de esforços em um único nome comprometem a construção de uma sigla mais forte no município. “É difícil aceitar que não haja um esforço para disseminar e pulverizar as ideias que o PL, como partido conservador, representa”, pontuou.
Outro ponto abordado no pronunciamento foi a inclusão de candidatos na nominata do partido. Marcelo Chitão revelou que, durante o período eleitoral, ficou sabendo de sua possível exclusão da lista de candidatos, fato que considerou um dos momentos mais frustrantes de sua trajetória partidária. “Isso me deixou extremamente decepcionado. Política de verdade se constrói em grupo, e um partido forte precisa priorizar esse espírito coletivo”, afirmou.
O vereador também se disse satisfeito com os resultados que obteve nas urnas ao longo dos anos, destacando o aumento progressivo em número de votos a cada eleição. No entanto, ele destacou que sua maior frustração não está na perda de seu mandato, mas na falta de uma estratégia mais ampla por parte do PL para consolidar uma base política sólida no município.
Vereador Octávio Sampaio rebate críticas e defende atuação do PL
Na sessão desta terça-feira (17), o vereador Otávio Sampaio utilizou o seu tempo de fala na Câmara Municipal para rebater acusações e esclarecer pontos levantados previamente pelo vereador Marcelo Chitão. Em tom enfático, Sampaio reafirmou seu compromisso com a transparência e defendeu sua atuação à frente das lideranças do PL na cidade.
Mantendo um tom respeitoso, como já fizera outras vezes em discussões com vereador Marcelo Chitão, o presidente do PL na cidade disse não compreender o que chamou de tom contraditório por parte de Chitão. “O senhor diz que respeita, mas parece um ataque. Faltaram 200 votos para fazermos o segundo suplente, e a culpa é minha? O senhor recebeu os mesmos recursos que eu recebi”, questionou, Octávio Sampaio, lembrando que a direção nacional enviou o mesmo valor de recursos para ele e para Chitão e Marcelo Lessa.
Com relação a ação judicial sobre o repasse dos recursos do Fundo Partidário (FP) e do Fundo Especial de Financiamento de Campanhas (FEFC), o vereador Sampaio esclareceu que tanto o PL quanto o Partido Socialista Brasileiro (PSB), do atual prefeito Rubens Bontempo, enfrentam processos judiciais semelhantes. Contudo, Sampaio destacou uma disparidade no tratamento dado pela imprensa.
– Há uma ação contra o PL e outra contra o PSB. No entanto, não houve o mesmo destaque por parte da imprensa, pois para gerar mídia, é preciso associar o nome ao Jair Bolsonaro ou ao PL. Eu organizo manifestações de direita há 12 anos, e nunca, nenhuma vez, vi a imprensa destacar eventos relevantes que promovemos, como uma manifestação de 5 mil pessoas na Praça Dom Pedro”, criticou.
O parlamentar também abordou diretamente as acusações de irregularidades e a possibilidade de cassação. Ele garantiu que as denúncias contra ele e os vereadores Marcelo Chitão e Marcelo Lessa não apresentam qualquer fundamento. “Essa acusação é totalmente infundada. Não há absolutamente nada, nem contra mim, nem contra o vereador Marcelo Lessa, nem contra o senhor”, afirmou, dirigindo-se a Chitão.
Octávio Sampaio salientou que já tomou todas as providências necessárias para sua defesa no processo em questão, inclusive arcando com os próprios custos advocatícios. “Contratei advogado e paguei com recursos meus, e não com dinheiro público. Sua defesa, vereador Chitão, já está pronta e protocolada. O que mais precisa ser feito?”, declarou, mostrando que, como presidente do PL vem tomando todas as medidas necessárias para defender o partido na cidade.
Ele destacou, ainda, o apoio financeiro que ofereceu ao partido durante o período eleitoral, declarando ter doado R$ 70 mil do próprio bolso para fortalecer a nominata. “Este montante está devidamente registrado e foi utilizado para a nominata performar melhor. O senhor recebeu R$ 300 mil e deveria ter feito algo com isso. Não entendo esse tipo de acusação”, disparou.
Vereador Marcelo Lessa afirma não há nada de errado com o repasse dos recursos eleitorais
Em um discurso direcionado à população e aos correligionários do Partido Liberal (PL), o vereador Marcelo Lessa fez um desabafo sobre os desafios enfrentados durante a última campanha eleitoral. O pronunciamento, marcado por um tom conciliador e autocrítico, buscou esclarecer polêmicas relacionadas à distribuição de recursos partidários, reconhecer falhas pessoais e reforçar a transparência na condução de suas contas de campanha.
Logo no início, Lessa destacou que sua intenção não era criar polêmicas, mas oferecer respostas à população e aos membros do partido, especialmente em razão das críticas e boatos envolvendo seu nome e o de outros vereadores do PL. “Não sou eu quem fiz o repasse de verbas aos candidatos, pois não sou o presidente do partido. A verba que recebi veio de Brasília, designada por um senador”, explicou, mencionando o senador Carlos Portinho como o responsável pelo envio dos recursos utilizados.
Durante o pronunciamento, Marcelo Lessa reconheceu que os resultados obtidos nesta eleição ficaram aquém do esperado, mesmo com o aporte financeiro recebido. Ele comparou o desempenho atual com campanhas anteriores, em que, segundo ele, alcançou resultados melhores mesmo sem contar com apoio monetário expressivo. “Eu já participei de campanhas com muito mais sucesso quando não contei com recursos financeiros. O que aconteceu desta vez só reforça que as adversidades do mandato e o contexto geral também influenciaram nos resultados.”
Entre os desafios enfrentados durante o período citado, ele elencou a turbulência política de sua gestão, a pandemia de Covid-19 e questões judiciais, como o episódio de hackeamento que, em suas palavras, causou grande impacto. “Foi uma covardia tremenda, e os efeitos dessa situação perduram até agora.”
Lessa fez um pedido de desculpas aos candidatos do PL que não receberam os repasses desejados e que, segundo ele, ficaram insatisfeitos durante o processo eleitoral. Reconhecendo o desgaste que as situações geraram internamente no partido, ele reforçou seu desejo de deixar as divergências para trás e trabalhar por uma relação mais harmoniosa dentro da legenda. “Todos nós erramos, e acredito que, se houve algum erro, foi com a intenção de acertar. Quero deixar isso como aprendizado e focar no futuro.”
Ele também mencionou as críticas feitas por aliados à sua condução, incluindo um vídeo em que um dos membros do partido o acusa de não repassar recursos. “Foi um momento difícil para mim, pois fiquei sendo responsabilizado por algo que não era minha função. Mas quero superar isso e continuar em busca da unidade do partido”.
Marcelo Lessa procurou tranquilizar todas as partes envolvidas no processo eleitoral sobre a utilização dos recursos de campanha. De acordo com ele, todas as verbas recebidas foram usadas de forma regular. “Minha conta está sendo analisada e será aprovada. Todo o dinheiro recebido foi destinado a mão de obra, aluguel de veículos e o ponto de apoio que montamos no bairro Morin. Não há nada de irregular”.
Ele também fez questão de destacar que outros membros do partido, como o vereador Marcelo Chitão e o vereador Octávio Sampaio, também estavam tranquilos quanto à legalidade das operações financeiras em suas campanhas. No entanto, reconheceu que o partido poderia ter sido mais forte e organizado durante o processo eleitoral. “Apesar dos esforços, houve desgaste. Mas acredito que isso fica no passado e serve de aprendizado”.
Em seu discurso, Marcelo Lessa assumiu a responsabilidade por seu mau desempenho eleitoral, isentando terceiros de culpa. Ele apontou que estratégias pouco eficazes, como a aposta excessiva em campanhas digitais, acabaram contribuindo para a derrota. “Confiei demais em visualizações na internet e negligenciei o contato direto com os eleitores. O resultado disso foi um desempenho abaixo das expectativas, e o culpado por isso sou eu. Não foi o partido, os colegas ou a população; eu falhei na execução”.